segunda-feira, 10 de março de 2014

Histórias de um Mafioso


  • Dançando com a Morte
    por: Fernando Quaresma

    O desejo pela luxúria adentra o meu corpo, domina a minha racionalidade e transforma a minha alma branda, em um viking.
    A cada lembrança dos crimes cometidos, mais sinto ‘fome’ por dinheiro e poder. Não saberia descrever, ao certo, o que vejo, mas sinto meu coração palpitar, minha respiração ofegante e meu libido estar atingindo o nível máximo da insanidade.
    Peguei o meu Porsche, saí pelas ruas para esclarecer as doces lembranças do crime perfeito, e retornar com um passado que ainda açoita a minha razão.

    Passando em frente à praia, senti a brisa do mar e as ondas ‘cantando’ como uma sinfonia clássica. Fechei os olhos e lembrei que ali foi o local onde tudo começou.
    Ao som de ‘Sexual Healing’, coloquei um cigarro na boca e encostado no capô do carro, comecei a sentir um frenesi de emoções. Tentei controlar a minha lucidez, mas o seu cheiro ainda estava em minha pele.

    Corri para o mar, mas não foi o suficiente. Senti sua respiração em minha nuca, suas mãos passando pelo meu corpo e me dominando como um súdito. Fiquei estático, paralisado como se ainda pudesse sentir a sua força em meus braços.
    Voltei para o Porsche, e decidi relutar contra esse sentimento. Acelerei tudo o que eu podia, atingindo velocidades bem acima da normalidade. Quando conseguia chegar em 240 km/h, eu queria mais, pedia por 260 km/h, 280 km/h. Fiquei descontrolado. Já não enxergava mais a rua, parecia que eu estava voando. Meu corpo estava sendo liberto e minha alma ficando limpa das impurezas da luxúria.

    Mas foi apenas uma forma de enganar uma verdade, o poder pela soberania só estava adormecido, e para despertá-lo seria uma questão de tempo.
    Passando pelo local do crime, vi a movimentação de dois carros suspeitos. Decidi segui-los, na busca por respostas. Para a minha surpresa, vejo você saindo do carro, linda e sexy. As curvas não enganavam, e a forma que você segurava a pistola, só comprovava que ainda estava em atividade. Só existia uma pessoa que conseguia manusear uma 9mm deitada.

    Seus comparsas faziam muito barulho, e não foi difícil detê-los. Peguei um por um, como nos velhos tempos. Sempre sombrio e sorrateiro, não deixava qualquer prova da minha existência. Apenas queria finalizar a missão com o objetivo de reencontra-la.
    Você sabia da minha presença, já estava a minha espera dentro do galpão. Quando a abracei pelas costas, pude sentir seu corpo escorrendo pelos meus braços, e sua cabeça deitada para trás como se quisesse ser dominada.

    Tirei a sua pistola e comecei a passa-la pelo seu corpo. Apontava nos pontos vitais, e segurava o gatilho como se quisesse explodi-la. Você não ligava, sabia que eu não tinha coragem de mata-la.
    Puxava seu cabelo para trás, enquanto você entrelaçava a minha cabeça em seus braços. Sim, você usava o seu melhor perfume. O cheiro era indescritível.
    Foi a minha vez de ser dominado, e você não perdeu tempo de rasgar a minha camisa e morder meu peito como se quisesse arrancar um pedaço. Me olhava com um sorriso irônico, e dizia palavras em hebraico(Bo Ruach Elohim/Vêm Espírito Santo).
    Sentei na cadeira como você ordenou, e começou a amarrar meus braços e pernas. Logo, trouxe uma vela e pingava a cera quente pelo meu corpo. O prazer que eu sentia era tão forte, que já não me lembrava da dor.
    Você sentou em meu colo, de frente ,e alisava meu rosto com tanta força, que sentia a pele descolando. Ouvia seus sussurros ao pé do ouvido, e só conseguia identificar a palavra saudade.

    Após morder o meu queixo, e segurar a minha cabeça com força, só a vi levantando e dizendo: - Sabe por quanto tempo esperei este momento? Não sabia responde-la.
    Você se levantou, e foi em direção a uma sala escura. Quando abriu a porta, virou-se e disse em tom irônico: - Não se mexa. E abriu um sorriso como se fosse à última risada.

    Ouço uma música celestial e, a cada nota, a minha alma se enchia de regozijo. Até que você aparece deslumbrante, segurando os dois lados da porta, e perguntando se ainda era a minha preferida. Você desfilava, seus passos eram de uma mulher destemida, com personalidade. Literalmente, dançava com a morte.
    Fiquei perplexo com suas curvas, o seu Yin – Yang andavam juntos e confundia o meu lado mais filosófico. Ao sentar de costas, alisou suas pernas e em um recado final disse: - Você não conhece todos os meus segredos. Virou de frente, e colocou um objeto debaixo do meu queixo. Quando questionei a cor do seu batom, apenas ouvi: - Morra seu verme.
    Não senti qualquer impacto, mas ouvi um disparo. O mundo se apagava bem lentamente. Meu corpo estava no chão, e com os últimos segundos de vida, você jogou R$ 1 mil Reais sobre mim e foi embora.
    Ao apagar o galpão apenas ouço a última sinfonia macabra: - Fique com o troco.

  • Fernando Quaresma tem 32 anos mora na cidade do Rio de Janeiro é Empresário - Presidente do Grupo Greendever S/A - Formado em Marketing pela Universidade Estácio de Sá.


4 comentários:

  1. Excelente texto. Parabéns ao escritor.

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  2. Gérson Casablanca14:42:00

    Bom gosto e muito suspense.

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  3. Phelipe Nazaré da Silva15:59:00

    Adorei a história e também gostei do portal. Ganharam um novo leitor.

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  4. Anônimo18:13:00

    Quando será a próxima postagem?????
    Carlos Noval

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