sábado, 1 de dezembro de 2012

CRÔNICA: Os cacos de nossas relíquias

Passei a semana me perguntando o que fazemos com os cacos de nossas relíquias. Pensando e organizando as minhas ideias para endireitar os meus pensamentos. Perdi duas noites de sono, uma tarde de frases incompletas, pensamentos soltos escritos de forma aleatória. Nenhum deles me pareceu satisfatório ou era capaz de reproduzir o borbulhar de ideias que estavam dentro do meu peito. Até agora.

Somos uma mistura incrivelmente eficaz de experiências e palavras. Todas as experiências que vivemos e as palavras que ouvimos e lemos fazem parte do que somos. Posso até mudar de roupa, de cabelo, de cidade, de amigos, mas não posso mudar os acontecimentos da minha vida. Eles permeiam toda a minha existência, mesmo que eu tente fugir, o que vivi será sempre o que sou.

O começo desse meu pensamento nasceu quando estava lendo um livro que há muitos anos estava na minha estante, quase que esquecido, quase pedindo para ser lido de novo. Um livro com uma dedicatória de uma mulher admirável que estando em posição superior foi submissa à um jovem. Não confunda aqui submissão com autoridade. Essa submissão é fruto sim, de relacionamento e respeito. Li esse livro pela primeira vez há uns seis anos atrás, emprestado por um grande amigo.

Em uma viagem de volta à um passado não tão distante, minha mente me levou à algumas experiências que vivi, sobretudo, religiosas. Lembrei de momentos e de frases de pessoas muito próximas à mim. Palavras de sabedoria, outras nem tanto. O fato é que, já ouvi tanta coisa, já me ensinaram tanto. Quantas vezes, me deram soluções mágicas, ou infalíveis. Planos mirabolantes, ou ações para facilitar a minha busca.

Ora, uma busca nunca pode ser facilitada, e é pessoal e intransferível. O que move e faz alguém ir adiante nem sempre funcionará para mim. Impôr aos demais suas próprias experiências é acreditar que a vida não se renova, que não é capaz de fazer de nós tão especiais e únicos, que precise de um plano específico para cada um.

Destruir e reduzir a cacos nossas experiências é como matar quem somos. Lembro de um amigo que ao se tornar evangélico, destruiu uma imagem atirando-a ao chão, por acreditar estar nela mil demônios. Ele era um apaixonado pela mãe de Deus. E lembro de uma amiga que sempre evangélica, não podia usar chapinha nos cabelos a pedido de Deus em uma revelação. Ela hoje é católica  e usa os cabelos lisos.

Até que ponto a influência exterior nos leva as ser quem não somos apenas por condicionamento social? Sofremos calados por querer seguir amando a mãe de Deus, ou tendo os cabelos lisos. Agradamos uma parte das pessoas e desagradamos outras. Sofrendo e nos impedindo de ser feliz por conta do julgamento de quem não importa.

É possível nessa sociedade ser católico e cultuar a Deus em um templo protestante? É possível ser evangélico e com amor, ir à cerimônias católicas sem julgar? É possível ir á Índia e se maravilhar com a religiosidade dos hindus? É aceitável um monge budista te trazer a paz em uma frase de Buda?É possível ir a um terreiro de umbanda e falar com Deus sem medidas? Pode um muçulmano citar Jesus com os olhos marejados por sua grandeza como profeta? Pode um judeu dizer Shalom e não ficarmos em paz porque ele não acredita no Messias, Jesus Cristo? Pode o Ateu ser mais capazes de gestos generosos do que o cristão mais altivo?

Podemos evoluir, podemos aprender a amar, é só se deixar AMAR! Eu continuo a minha busca. O final é o menos importante. O que não posso é deixar de ser quem eu sou, nem deixar de acreditar nas coisas que acredito, só pelo simples fato de desagradar alguém.


A paz, Deus seja louvado, Shalom, Namastê, Axé, Salaam Alaikum











Camila Raupp - produtora de conteúdo e blogueira





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